Apresentação
A
coleção de depoimentos tem como objetivo
relatar as diferentes vivências dos integrantes do grupo com relação à leitura
e a escrita.
Profª
Janete Bérgamo
A minha experiência com a leitura começou com as histórias
contadas todas as noites pelo meu pai. Então, após o jantar, eu e meus dois
irmãos sentávamos naquela pequena saleta e curiosos esperávamos ele começar a
história. Todos os causos vinham de sua própria imaginação, pois tanto ele
quanto a minha mãe estudou pouco. Mas a cada dia, uma história mais mirabolante
que a outra. Nós ficávamos atentos para não perder nem um pedacinho. Um
dia era a história do porco, outro dia, a história do homem que carregava um
saco nas costas e andava pelos cafezais. Depois quando aprendi ler, meu
primeiro contato com a leitura foi com uma espécie de almanaque que sempre
ganhava do farmacêutico, após tomar uma injeção. Lá tinha muitas piadinhas...
E no decorrer dos anos, ainda na escola, tive uma professora de
português, na 5ª série, que pedia muito resumo de livro, mas tinha que ser da
coleção vagalume, então li: “Sozinha no mundo”, “O caso da borboleta
Atíria”,“Éramos seis”, “ ilha perdida”,etc. Nas séries seguintes li “ O pequeno
príncipe” e outros livros da biblioteca. Portanto, sou como a Danuza, leio
qualquer coisa que chegue às minhas mãos.
“Adoro ler, e leio qualquer coisa que chegue às minhas mãos, de
bula de remédio a dicionário, é uma mania”. (Danuza
Leão - Jornalista e escritora) Fonte: Depoimento feito ao site
da Livraria Cultura em 2004.
Profª Helenise Camara
Sempre fui uma leitora voraz. Lembro-me de que com nove anos de
idade ganhar uma coleção de contos de fadas de minha mãe. Essa coleção não
tinha quase gravuras, mas muitas páginas escritas. Em poucos dias tinha lido
tudo. E continuei nesse ritmo, lendo muito. Meu irmão que é mais velho que eu
nove anos, era sócio do Círculo do Livro, todos os meses adquiria novos livros,
geralmente clássicos. Li vários, inclusive as tragédias de Shakespeare. Li
também Julia, Sabrina etc.
Minha mãe, professora alfabetizadora, sempre nos incentivou a ler.
Em casa tínhamos sempre literatura que ela comprava ou assinava.
Na escola comecei a ler livros no extinto primário e líamos pelo
menos quatro livros por ano. No “Colegial” li ainda mais e todas essas
experiências de leitura certamente tiveram grande importância sobre a minha
vida, sobre quem eu sou.
Certa vez quando fazia o magistério (o extinto CEFAM) tivemos a
oportunidade de ler e discutir um texto de Rubem Alves chamado “Sobre
jequitibás e eucaliptos – amar” inserido no livro “Conversas com quem gosta de
ensinar” (1980). Esse texto fala sobre a diferença entre professores e
educadores. É maravilhoso. Na época em que li devia ter uns 18 ou 19 anos e já
tinha escolhido minha profissão e decidi que queria muito ser uma educadora e
esse trecho da leitura “devorei” no sentido que Rubem Alves fala sobre
antropofagia: “Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido?
Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se
define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é
vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.”
(p.11).
E isso tem sido constante em minha vida, acompanha-me, tornou-se
parte integrante de mim; leva-me diariamente, no exercício de minha função, a
pensar e repensar em quem sou e como estou atuando em sala de aula.
Provavelmente por esse motivo amei a afirmação de Rubem Alves
sobre a antropofagia “A experiência literária é um ritual antropofágico.
Antropofagia não é gastronomia. É magia. Come-se o corpo de um morto para se
apropriar de suas virtudes [...]. Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que
devorei... E se escrevo é na esperança de ser devorado pelos meus leitores.”
Profª
Eveli de Almeida
Desde pequena sempre tive incentivo à leitura. Meu pai, embora tenha
tido pouco estudo, sempre manteve uma assinatura de um jornal e de uma revista
que fosse de interesse deles e dos filhos. Em casa, tínhamos o jornal da cidade
que passava de mão em mão. Claro que cada um procurava os assuntos de seu
interesse, mas despertou-nos para o mundo das notícias. Tínhamos sempre a
“Nosso Amiguinho”, “Recreio” e depois “Vida e Saúde”, entre outras. Até o
“Almanaque Sadol” que era distribuído em farmácias era lido e comentado. Penso
então que, assim como era importante manter o material e a tarefa organizada, a
higiene pessoal e coletiva, etc., o gosto pela leitura foi passado a
todos os filhos naturalmente. Na escola, não tínhamos tanto acesso a livros,
mas sempre visitávamos espontaneamente a biblioteca pública. Emprestávamos dos
primos e dos amigos. Lembro-me que na casa de uma tia, eu invejava a quantidade
de gibis que meus primos tinham: um quartinho com muitas estantes cheias deles.
O bom da história é que tínhamos total liberdade de emprestá-los e lê-los. A
Escola Dominical foi outra grande contribuição para o desenvolvimento da
leitura oral, compreensão, aquisição de vocabulário. As peças teatrais na
igreja também ajudaram muito em relação à ênfase, entonação, interpretação.
Mais tarde, em outra fase da vida, conversando com meu namorado (hoje meu
marido), comentei que havia lido “Capitães da Areia” e que gostaria muito de
relê-lo e ter um exemplar só meu, mas não poderia adquiri-lo, pois eu não tinha
dinheiro para tal. Qual não foi minha surpresa, ao organizar a estante de casa,
algum tempo depois, encontrar o querido livro entre outros dos meus irmãos.
Jamais me passaria que esse livro lá foi colocado para que eu tivesse a
agradável surpresa, com uma linda dedicatória! Até hoje, guardo esse livro com
muito carinho e vez ou outra, passo para dar uma espiada em suas
páginas...Enfim, amo ler, não consigo passar um só dia longe da leitura e fico
surpresa quando ouço alguém declarar: "Não gosto de ler"! Como
consegue viver, então?
Profª Sonia Passarinho
Minha
experiência leitora se iniciou aos seis anos, com a cartilha Caminho Suave (
que saudade!), sempre gostei de ler em voz alta, até na igreja
participava da leitura, e fiz parte do coral que também formava um grupo
de teatro, não me sentia inibida na hora de ler. Tinha minhas
preferências, e os livros que marcaram minha adolescência foram Éramos
Seis e Ilha Perdida, chorava muito durante a leitura, mesmo que a história
fosse de aventura, pois me entregava totalmente a ela.
Em Éramos Seis
vivi mais intensamente a leitura, pois o número de personagens eram o mesmo de
pessoas da minha família, o que me permitia uma identificação entre eles.
No livro havia
o pai, a mãe, três irmãos e uma menina exatamente como na minha família.